Eduardo Prado Coelho!
"Livre. Livre dos equilíbrios consensuais a que obrigam a formação universitária ou a rotina do jornalismo cultural. Livre das programações ideológicas que distribuiam com impiedosa cegueira os ocupantes do campo amigo e os do campo adversário. Livre dos condicionalismos que impunham um calão científico ou uma simplificação demagógica. Livre também para poder ser incoerente, contraditório, instável, deambulante, provocador, terno, insidioso, segundo a cadência emocional das horas e dos dias.
Setembro é o teu mês: e de súbito a morte de um amigo, e o insensato desentendimento em que se perderam, suscitou o desejo de uma palavra que recuperasse tudo o que nos surge sob a forma do irreparável e do irreversível — tudo o que não escrevi, afinal.
Porque o tempo era mais urgente do que os códigos. Livre também dos códigos e das fórmulas. Entregue apenas ao sabor das palavras — cada página é a página de rosto de um arquivo de afectos. Um rosto. Este é o primeiro dia do resto dos teus livros — disse A., quase em surdina, encostado à porta do quarto. O primeiro dia, sim, claro (concordaste), mas ainda me falta a primeira palavra."...
Eduardo Prado CoelhoPorque o tempo era mais urgente do que os códigos. Livre também dos códigos e das fórmulas. Entregue apenas ao sabor das palavras — cada página é a página de rosto de um arquivo de afectos. Um rosto. Este é o primeiro dia do resto dos teus livros — disse A., quase em surdina, encostado à porta do quarto. O primeiro dia, sim, claro (concordaste), mas ainda me falta a primeira palavra."...
Na falta de uma ilha, um livro."...
Nasceu em Lisboa, em 1944.
Licenciou-se em Filologia Românica, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e doutorou-se em 1983, na mesma Universidade, com uma tese sobre “A Noção de Paradigma nos Estudos Literários”. Foi assistente na Faculdade de Letras de Lisboa. Em 1984, passou para a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde é actualmente professor associado no Departamento de Ciências da Comunicação.
Em 1988, foi para Paris ensinar no Departamento de Estudos Ibéricos da Sorbonne - Paris 3. Entre 1989 e 1998 foi conselheiro-cultural na Embaixada de Portugal em Paris e, em 1997, director do Instituto Camões, nesta cidade.
Tem ampla colaboração em jornais e revistas e publica uma crónica semanal sobre literatura no jornal Público, para além de um comentário político quotidiano no mesmo jornal.
É autor de uma ampla bibliografia universitária e ensaística, onde se destacam um longo estudo de teoria literária Os Universos da Crítica, vários livros de ensaios O Reino Flutuante, A Palavra sobre a Palavra, A Letra Litoral, A Mecânica dos Fluidos, A Noite do Mundo e dois volumes de um diário Tudo o Que Não Escrevi (Grande Prémio de Literatura Autobiográfica da Associação Portuguesa de Escritores, 1996). Em 2004, foi-lhe atribuído o Grande Prémio de Crónica João Carreira Bom. Publicou recentemente Diálogos sobre a Fé” (com D. José Policarpo) e Dia Por Ama (com Ana Calhau).
3 comentários:
O país ficou mais pobre culturalmente... e nós com ele.
Somos (país) tão culturalmente pobres que a morte de EPC se sente de uma forma ainda mais forte.
Muito jovem, quis o destino que uma morte súbita o levasse precocemente.
Olá Elvira e Repórter
Cada vez que morre alguém com valor o nosso país fica mais pobre. Os valores culturais são poucos e devemos manter viva a imagem destes vultos da nossa cultura. Eduardo Prado Coelho deve, por isto tudo e pelo valor que ele tinha, manter-se vivo na nossa memória.
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