quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Calor de Agosto II


Enquanto metade da população daquela Aldeia perdida no Baixo Alentejo, aproveitava o fresco das casas, as ceifeiras permaneciam no campo de sol a sol, ao calor tórrido dos meses de Verão e ao frio intenso que ataca o Alentejo nos meses de Inverno!
Cobriam-se dos pés à cabeça na tentativa de se protegerem daquele calor infernal. Os lenços na cabeça deixavam ver uns olhos negros da cor da melancolia. Rostos curtidos pelo sol. Mãos calejadas do amanho da terra.
Muitas levavam os filhos pequeninos, porque os tinham de amamentar. Parcos salários para tão grandes trabalhos. A esperança de Abril alimentava-lhes a alma. Sonhos de um amanhã sempre adiado e renovado a cada amanhecer.
E cantavam modas! Em tom dolente. Um cantar triste, que lhes aquecia os corações e fazia enganar a fome e esquecer a miséria.
As suas bonitas vozes elevavam-se em melodias que enchiam de cor os campos do Alentejo.

Alentejo, debruado a Arraiolos


Na dourada planície alentejana

Onde o sol penetra e em tudo teima

A falta de água mísera e insana

Quebra a vontade abate e queima


Nessa imensa e dourada pradaria

O vento de suão seca a cortiça

Leva consigo, numa lenta agonia,

O suor, a que chamam de preguiça.


Mas o Alentejo é belo e majestoso

Quem o ama chama-lhe de formoso

Quem parte volta, nunca diz adeus


Por isso há sempre vozes em coro

Canto alentejano em vez de choro

A alma alentejana tem força de Deus


19-04-2005

Rogério Martins Simões

1 comentário:

Elvira Carvalho disse...

Na esperança de um Abril, que ás vezes duvidamos, se aconteceu mesmo, ou se de tanto o sonharmos, pensamos que aconteceu. Me diga que aconteceu de bom para o povo? Á sim a liberdade. Um bem supremo, não nego, mas chegará? Quererá o povo a liberdade, sem pão? Ou foi essa a liberdade com que sonhou?
E que não adormeçamos. Porque qualquer dia acordamos e a liberdade já cá não mora.