domingo, 10 de junho de 2007

O "meu" 10 de Junho!



10 de Junho, dia de Portugal, de Camões, e mais tarde das Comunidades …
E acrescento eu, o dia em que o meu Pai nasceu!
Para mim, ele é e será sempre o Português mais Português que conheci.
Por isso e para não me repetir nas palavras, fui procurar no baú das recordações do meu blog “Arte em Movimento” e trouxe até aqui, para as "Conversa de Café", um post escrito em 2006, dedicado a ele e ao seu carácter.
Fiz algumas alterações que achei necessárias.

“10 de Junho

A data de nascimento do meu Pai, dia da Raça, de Portugal, de Camões e das Comunidades !!
O meu Pai tinha um imenso orgulho de ter nascido nesta data, sentia-se mais Português que os outros Portugueses.
Era o seu dia! Tinha esse direito.
Toda a minha vida o lembrarei como um homem íntegro e justo, respeitador e respeitado. Amigo do seu amigo, tirava a camisa, se fosse preciso, para a dar a quem dela precisasse. Naquela época, quando eu era criança, os tempos no Alentejo eram muito difíceis, havia fome, pobreza e miséria. O meu pai era contabilista numa grande Fundição em Safara. Tirava do seu ordenado para dar a quem mais precisava, os patrões vinha passar férias em Cascais onde permaneciam meses a fio, ficando os homens que tinham na jorna sem um vintém. Eu vi o meu pai chorar muitas vezes desesperado, por ver aqueles homens cheios de fome à porta de minha casa para que ele lhes resolvesse o problema. E resolvia...

PAI... Saías de casa desatinado e só regressavas quando trazias o dinheiro para fazer aquela gente feliz e matar-lhes a fome, a Banca sempre te abriu as portas. Os grandes latifundiários também.
Pedias a toda a gente, não para ti, mas para eles, aqueles que tinham menos que tu. Os amigos, os grandes proprietários, os grandes latifundiários, nunca te deixaram sem ajuda. E aquele povo dependia de ti, todos os meses. Eu nunca soube como o conseguias, tinha entre os 5 e 10 anos, nada sabia ainda da vida, mas via a fome no rosto daquela gente, e o sofrimento nos teus olhos.

O tempo passado no Alentejo, naquele Alentejo tão teu, tão meu!
Ali estão as memórias, ali estão as saudades!

Os serões à luz do candeeiro de petróleo, onde tu me ensinavas a escrever e a fazer as contas escritas na ardósia, as cópias, os ditados e os meus primeiros desenhos. Só depois passadas a limpo para o caderno.
Na mesma pedra das contas eu desenhei Salazar, Carmona e D. Afonso Henriques! Tu ficaste emocionado e orgulhoso de mim, apesar de eu ter visto um certo desagrado ao veres o ditador, mas artista é assim, por vezes enigmático, e tu percebeste! Guardávamos os desenho para eu os mostrar na escola à minha professora. Ela não acreditou, pensou que eram teus! Que importa, era o nosso segredo. Sabíamos que eu nunca faria contas como tu, nem tu desenharias como eu. Rimos os dois. Felizes.

As tardes quentes de Verão. Os passeios pelos campos, por entre as searas que me cobriam o meu pequeno corpo, em grandes correrias. E eu escondia-me no meio das espigas loiras, prontas para nos dar o pão. Nós e o nosso cão, que nunca nos abandonava.


Os passeios até ao rio, em segunda-feira de Páscoa, juntamente com toda a família e a maioria dos habitantes da aldeia.
Quando te zangavas comigo, dizias - Mais vale chorares agora do que eu chorar quando tu fores grande - . Saberes que eu entenderia muito mais tarde.

Sempre me pareces-te o mais bonito de todos os homens, o mais inteligente, o mais sábio.


Nunca tiveste direito a férias. Trabalhaste todos os dias da tua vida, mesmo aqui, já em Lisboa, e apesar de estares doente.

Até que um dia partiste. Tinhas 56 anos.

PAI…nasceste numa data importante para Portugal e deixaste-nos a 5 de Outubro, já lá vão 34 anos, mas estás sempre aqui no meu coração, nas memórias e nas saudades.



Um beijo, para que o vento tu entregue, estejas onde estiveres.

Franky

4 comentários:

Unknown disse...

Obrigada por escreves por ti e já agora, por mim, uma prosa tão bonita ao PAI e que tantas recordações trás. Como eu também tenho saudades desse tempo e principalmente DELE. Aonde estiver um beijo mt grande.
Obrigada mais uma vez Franky
Bjs

Luis Eme disse...

Bonita homenagem a um homem bom e justo, que foi teu pai.

Pelo que nos contas, podes crer, quer foi muito mais português, que grande parte dos portugueses.

Anónimo disse...

Franky
Recordo-me de ler esse "post" no "Em movimento".
E, se gostei na altura, não é um ano depois que digo o contrário.
Que bela homenagem!


Um pormenor: o teu pai nasceu numa data importante (10 de Junho) e faleceu noutra data importante (05 de Outubro). Certo?

Um beijinh, amiga.

Franky disse...

Certo amigo repórter. Duas datas com muito simbolismo para mim.

Sem dúvida que ele merecia, Luís.

Não tens de agradecer Maria. Escrevi como deves calcular pelas duas.
Beijinhos