segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A minha vida é um vazio!

De repente e quase sem eu dar por isso a minha vida transformou-se num vazio. Por motivos laborais o meu marido e o meu filho partiram para Évora em busca de melhor sorte. A minha casa que era um mar de gente, barulhenta, desarrumada, por vezes parecendo um mundo de loucos, com gente maluca quanto baste, de repente ficou vazia, a casa não mexe! Tudo parece parado. Como se de repente a ficha se tivesse desligado e a máquina parasse!

Os dias são enormes. O entardecer agora é de tons mais cinzentos, há mais nostalgia no ar. Mais tristeza. Mais saudade. As noites intermináveis. A mesa das refeições está desguarnecida! Fazer comida para quê? Come-se qualquer coisa, fora de horas. Fico suspensa dos sons que me chegam da rua. Os barulhos do prédio que antes não existiam. O som da chuva e do vento ouvem-se impiedosos, como se antes não houvesse temporais. Até os animais de casa, se calaram, hibernaram, estranhando o mutismo, deambulam desgostosos, silenciosos.

A partida da minha mãe! Esta dor que não me cabe no peito. A saudade infinita e a falta que ela me faz! Era a minha conselheira, com quem eu desabafava e a quem eu contava os meus segredos. Era também uma exímia contadora de histórias. Deliciava-nos com os seus contos verídicos de gentes e lugares. De Barrancos, que a viu nascer e crescer e ali se fez mulher, ali amou o homem da sua vida desde os tempos de escola, ali casou e ali teve as filhas, contava-nos histórias fabulosas, verdadeiras lendas que ela nunca esqueceu. Também nos contava episódios reais do tempo da guerra espanhola, relatos vividos por ela e por toda a população de Barrancos.
Histórias de Safara e Vila Nova de S. Bento e das suas gentes que a acolheram e que ela amava de coração. A ouvi-la, o tempo não custava a passar. Eram tardes deliciosas. Já não a ouço. Agora parece que o tempo não passa.

Para piorar as coisas o meu Bethoven, (gato que eu adoro) também partiu. Não com os donos, para Évora, nem para lá da ponte, mas para casa de amigos, por motivo de mau feitio para com os outros gatos, que de repente não consegue controlar. Volta aos fins de semana. Novas guerras, novas batalhas perdidas, difíceis de entender e de aceitar. E volta a partir sem encontrar-mos solução para este problema. E volta a saudade.

Por culpa deste esvaziamento afasto-me a pouco e pouco da escrita, da pintura, dos amigos. Isolo-me de tudo e fico parada sem iniciativas, sem vontades. Uma sensação de vazio e carência que não consigo explicar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Desculparás minha querida amiga, mas vou ser algo bruto contigo.
Sabes que não mando dizer e, agora, hoje, é a tua vez.

Compreendo o teu estado. Ver partir a mãe, dor incontrolada e incontrolável, ver o marido e o filho migrarem por questões de ordem profissional, ver o Beethoven dar música e não o ouvires.

É tudo muito complicado e, numa dose quase única, repentinamente, como se o céu te caísse em cima.

Há, contudo, algo que está ao teu alcance e que é importantíssimo.
A tua vida própria.
Desânimo é palavra que deves dispensar nesta altura do "campeonato", embora ela se entenda.
Tens demasiado valor para de deixares arrastar ou para fazeres como a avestruz que em sinal de desespero, enfia a cabeça na areia...

Nada disso, Franky.

Vais continuar a escrever,porque gostas de o fazer.
Vais continuar a pintar, porque amas essa arte.
E os amigos? Não fazem parte de ti?
Eles acreditam em ti. Não os decepciones.

Aceita um abraço do tamanho do mundo e um beijinho pleno de amizade e de respeito.

Franky disse...

Obrigada de coração pelas tuas palavras, amigo Repórter. São palavras assim, de ânimo e de amizade que em momentos certos precisamos de ouvir e tu sabes usá-las muito bem. Elas fizeram efeito, podes crer. Desta vez fui forçada a parar, porque a vida por vezes é madrasta e nos prega umas "boas" partidas!
Mas a vida segue em frente porque tem de seguir e porque eu não sou pessoa de ficar parada muito tempo.
Descobri que tenho muito tempo e decidi estudar! Só estou à esperta que me chamem e eis-me de volta aos bancos da Escola!
Amigos? Falas de amigos? Quais amigos? Por experiência própria sei que alguns "amigos" desaparecem como fumo no deserto quando nós mais precisamos deles. Ou porque não sabem, ou porque não têm tempo, ou porque de repente descobriram que nós afinal estamos tão longe e tão inacessíveis. Ou simplesmente porque de repente descobriram que têm "receio" de incomodar!
Enfim, outro assunto para esquecer.
Beijinhos para ti meu amigo

Anónimo disse...

Os verdadeiros amigos estão sempre presentes.
No bem e no mal.
O resto é cenário e ... cinismo.

Elvira Carvalho disse...

Franky me desculpe mas penso que é nesta altura em que mais deve escrever e pintar e estudar e tudo o mais. É uma forma de se manter ocupada, e não estar sempre a pensar no mesmo.
Já pensou passar para o papel as histórias que a sua mãe lhe contava?
Seria uma bonita homenagem, uma maneira de se sentir junto dela e tenho a certeza que onde quer que ela esteja ia sentir-se orgulhopsa da filha.
Um abraço.