sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A pequena Esmeralda!


Nunca me prenunciei sobre este caso porque há aspectos nele que não entendo.

O caso é simples! Uma criança é gerada numa união de puro acaso. Filha do vento e da aventura. Renegada por pai e mãe. É entregue pela mãe biológica a quem ela entendeu sem intervenção do pai do “acaso”. Simples história, como tantas e tantas por esse mundo fora. A criança é dada assim como por artes mágicas a quem desejava ter um filho. E a amou de verdade.

Quantos casais querem ter um filho e não o podem ter? Sujeitam-se por isso a processos complicados de adopção com anos e anos de espera? Anos e anos de expectativa, numa espera desesperada por um telefonema que venha finalmente por fim a este pesadelo. A notícia da vinda de um ser que encherá as suas vidas de alegria, preenchendo finalmente os seus sonhos. Anos e anos de desespero! Anos e anos de espera. Anos e anos de nadas. Desespero, raiva e desilusão.

E quantas crianças, são depositadas em associações à espera que o dia da sua liberdade chegue, perdendo os melhores anos da sua meninice por entre paredes, nuas, sem carinho, sem amor, numa espera que desespera. E os anos passam e o vazio se instala. E desesperam na espera do nada.

E os braços caem cansados de esperar por um abraço que as aperte com amor. Abraça-se o vazio! E doe!

É por este motivo que não tinha escrito ainda nada do caso da pequena Esmeralda. Por não entender, por não conseguir perceber a diferença. E porque sei o que é esta espera.

A pequena Esmeralda bem ou mal, não teve de passar por este processo, foi contra todas as normas estipuladas entregue de mão beijada a um casal que a amou, a educou e lhe deu todo o carinho e amor que qualquer criança tem direito. Mas de repente foram acordados desse sonho, pelos homens que cumprem as leis. Foram abruptamente despertos para a realidade. Afinal a menina não era deles! Não lhes pertencia! Já se tinham passado 5 anos. E o terror instalou-se na sua casa. Nas suas vidas. O pai biológico de repente lembrou-se que tinha direito como pai para reclamar o amor dessa criança. Como se o amor se pudesse comprar! E conseguiu! E os homens de leis deram-lhe razão. E determinaram um dia para a entrega. Dia 26 de Dezembro.

Depois do dia de Natal, a Pequena Esmeralda não vai ter tempo de abrir os brinquedos que receberá nessa noite de todas as esperanças. Vai logo de manhã ser tirada da única casa que conhece e ser levada para algures, para onde nunca esteve, não conhece e não quer.

Contra tudo e contra todos a lei vai ser cumprida. Contra todos os pareceres pedagógicos! Porquê? Não entendo. Nada entendo de leis. Mas entendo o coração humano. E sinto-me revoltada.

Como prenda de Natal a pequena Esmeralda vai ter o abandono forçado dos pais que ela sempre quis e aprendeu a amar.

Que Deus perdoo os homem que fazem as leis.

4 comentários:

Anónimo disse...

Lamento pela jovem Esmeralda.
E lamento não poder alterar a legislação.
Contudo, é precisa uma elevada dose de bom senso para lidar com situações destas.

Elvira Carvalho disse...

Lamento muito o que está a acontecer à menina, que é a única vitima no meio deste imbróglio todo. Lamento que os juízes não tenham acautelado um maior tempo de adaptação para a menina. Não lamento o casal, que perdoe-me mas não apoio. O pai poderá ter sido por acaso, mas quando após o exame teve a certeza que a menina era dele, apresentou em tribunal o pedido de poder paternal que lhe foi logo entregue e que só não se concretizou porque o casal fugiu com a criança. Se tanto a amavam porque não pediram logo a adopção? Porque quiseram burlar a justiça?
Bem sei que a maioria os apoia. Não é o meu caso e ninguém melhor que eu sei o que isto é. Lutei durante quinze anos com uma esterilidade que me venceu. Inscrevi-me na Segurança Social e na Santa Casa em Lisboa para adoptar uma criança. Em 1980 um recém nascido foi abandonado pela mãe. O pai com uma menina de 5 anos, e não podendo ter os dois sózinho, ia levar o menino á Segurança Social para adopção. Nós soubemos por um vizinho e fomos lá a casa buscar o menino. No dia seguinte de manhã o meu marido deslocou-se á Segurança Social, com o pai biológico para solicitar uma adopção plena do bebé. O pai biológico confirmou por escrito que dava o menino para adopção, mas pelo facto da mãe não o fazer, que estava desaparecida o processo deu entrada no tribunal e durante 90 dias foram publicados anúncios nos jornais pedindo a comparência dela. Só após esse prazo o tribunal decretou abandono e passou o poder paternal para o pai biológico. Nessa altura foi-nos dito que era concedido ao pai biológico um ano, para ver se organizava a sua vida, e mantinha a posição de doação do filho. Entretanto a criança ficava ao nosso cuidado e seria acompanhada por assistentes sociais. No fim desse tempo o pai foi novamente chamado, confirmou a doação do filho e ntão sim entrou-se no processo de adopção plena, agora já connosco a saber que não podiam voltar atrás. O meu filho tinha 45 dias quando nasceu para nós, e tinha 40 meses quando passou a ser nosso filho.
Percebe a diferênça? As leis podem não ser justas, mas se existem são iguais para todos. Ou lá porque é militar já não cumpre as leis?
Um abraço e desculpe ter-me alongado

Franky disse...

Minha querida Elvira, no começo do meu post dizia que nunca me tinha pronunciado sobre este caso, da pequena Esmeralda, porque não entendia muitos aspectos que o envolvia. Pois é Elvira, depois de ler a sua mensagem estou mais à vontade para falar sobre ele. O processo de adopção é sempre um assunto muito delicado, principalmente para mim, porque não sendo directamente vivido por mim é vivido por todos nós, cá em casa, com muita intensidade.
A minha filha, depois de um período muito conturbado, com várias tentativas para engravidar, partiram para a adopção. Já lá vão quase 5 anos e continuamos à espera. À espera de um telefonema, à espera de uma visita, à espera de uma palavra de apoio, de esperança, de ilusão. Nada! E os anos vão-se passando, a esperança e os sonhos vai-se esfumando como um castelo de nuvens. Evitam-se as conversas! Evitam-se as perguntas do género, - para quando um filho? Ou - Então eles não querem filhos? E netos? Ainda não tem netos?
E a dor aperta nos dia de solidão. O vazio vai preenchendo as nossa vidas. Os sonhos desvanecendo. E a espera continua. Até que um dia uma criança nos venha fazer felizes. Por isso eu escrevia, os braços começam a ficar cansados desta espera. Os abraços do aconchego de quem quer amar uma criança caiem no desespero desta espera. E tanta criança abandonada. E tanta criança para abraçar. Tanta criança para amar.
É por isto que eu não entendo este caso e só estou do lado da criança. Essa sim merece ser feliz, e ao fim destes anos todos é legitimo que o seja junto de quem ela aprendeu a amar.
Um beijo enorme para si Elvira

Elvira Carvalho disse...

A minha afilhada tem o mesmo problema. Só que o marido não quer adopção e ela sente-se muito infeliz e incompleta. Quando eu escrevi um conto sobre a infertilidade, a personagem era ela. A sua filha que não desanime. Espera-se muito tempo. Quando não nos importamos de receber uma crian com três quatro anos é mt. mais fácil. Bebés é sempre muito demorado. Esperei 5 anos e não fora o caso especial de ser o pai a dr-nos o bebé não sei quanto tempo mais teria de esperar.
Um beijinho para vós, e que Deus as ajude a realizar esse sonho.
Um abraço