Sinto-me cansada.
Sinto-me cansada e desiludida.
Das pessoas, das Instituições e o do Sistema.
Do Serviço Nacional de Saúde.
Dos médicos arrogantes e prepotentes.
Das empregadas de guichés, das secretárias, dos directores, dos políticos.
Cansada deste Serviço de Saúde que só serve quem está de boa saúde e a quem tem muito dinheiro.
Ontem levantei-me antes das 7 da manhã, só tive tempo de tomar banho e arrancar para conseguir arranjar uma consulta para ir buscar a baixa do meu marido, que tinha de ser entregue até hoje na empresa onde ele trabalha, por ter sido operado ao coração a semana passada.
Estava lá gente desde as 5 da manha!!
Às 8 da manhã as portas do Centro abriram-se e consegui consulta. Era o nº3. Até aí tudo bem. Fui tomar o pequeno almoço e buscar o marido a casa. E lá fomos nós para a espera da nossa vez, entre doentes e pseudo doentes e futuros doentes, pois o recinto de espera estava apinhada de gente, (30/40 doentes) a sala é interior, não tem janelas e as que há estão um pouco longe, no corredor, estavam fechadas e havia pouca ventilação.
Às 11 como ninguém fosse chamado para a consulta, deveria ter começado às 9h30m, eu, armada em Padeira de Aljubarrota entrei pelas “portas proibidas” e fui perguntar o motivo de tanta demora, e de não chamarem ninguém, descoberta macabra, a médica não vinha dar consulta, tinha avisado, alguém se esqueceu de avisar os utentes! Entre a surpresa, a raiva e a desilusão, abandonei as instalações à procura de um chefe de serviço e de um Livro de cor amarela! - Só depois de almoço, agora não está cá ninguém responsável por esse serviço! - Voltámos de tarde, eu e um doente com 8 dias de ser operado ao coração, o meu marido, fomos então atendidos por volta das 16,30 da tarde, saímos daquela antro de…. É melhor estar calada! Com a baixa debaixo do braço, finalmente. E a sensação de que ser português é ser coisa nenhuma, uma coisa tão insignificante, tão medíocre, tão pequenina que mais vale apagarem-nos do mapa.
A queixa ficou, nem sei para que serve. Só se for para aliviar o stress, o meu!
Uma faixa enorme na porta da rua do Centro de Saúde do Bombarral a anunciar a aproxima greve de dia 30 já lá estava pendurada a esvoaçar ao vento. O trabalhador tem direito à greve e ao protesto, mas e nós utentes destes serviços??
Hoje o meu marido sentiu-se mal à hora de almoço, telefonei para o Serviço 24, (o tal!!!!!!!) Identifiquei-me eu, identifiquei o cartão do doente, (marido) se tinha consciência que o telefonema estava a ser gravada em caso de ser mentira, disse-me a menina ao telefone. Tive de me rir, mesmo com vontade de explodir! O nome, a doença, os sintomas, as causas, o que teria feito se este serviço não existisse. – Vou passar aos enfermeiros! Perguntas…. - O que se passa, quais os sintomas, as causas, a doença, como está o dente neste momento!! Porra!! Chega!! Depois de ter explicado tudo, eu não podia sentir os sintomas do meu marido! Falem com o doente, eu não sei o que ele sente, só o próprio o poderá dizer se conseguir falar!! O meu marido falou durante +- 20m, com o serviço 24!!!!! Ficámos na mesma. Fiquei com a certeza que este serviço só empata quem está aflito.
Fomos de seguida medir a tensão ao Centro de Saúde do Bombarral que não tem Urgência, mas “Consulta Aberta”. Teve de esperar pela sua vez. Esperou 2 horas para ser visto pelo médico de serviço, verem se o coração e o pacemaker estavam bem, medir a tensão! Foi mandado para casa com um calmante e descansar.
Isto é dose e nós não somos de ferro. Hoje apetece-me bater com a cabeça nas paredes!