Laços!
Para todos aqueles que embora longe, distantes no tempo e no espaço, continuamos a amar. Que os laços nunca se desfaçam.
Por falar em amigos, e porque não quero e não posso esquecer, nem confundir as verdadeiras amizades, há amigos e amizades muito especiais que nos enchem a alma de felicidade. Amigos de mão cheia, amigos de coração, esses são tão raros que não os devemos esquecer nunca.
Amigos verdadeiros, nas horas boas e más, em que riem e choram connosco.
Como diz o inicio de uma canção do José Cid – “Era eu uma criança” e já esta amiguinha fazia parte da nossa família e nós da dela. Com o passar do tempo e com o envelhecimento da minha mãe esta amizade foi-se solidificando, engrandecendo e fortificando. Esta amiga tão especial foi sempre ajudando a minha mãe em tudo que ela precisava, estava sempre pronta para lhe fazer companhia nas horas de solidão, fazia coro connosco para ouvir as tais histórias que a minha mãe tão bem contava. Riamos juntas com as graças que a minha mãe dizia! Nos momentos de grande aflição era a ela que a minha mãe recorria. Era assim como mais uma filha e para mim uma irmã.
No dia em que a minha mãe partiu e logo que eu lhe comuniquei nunca mais me deixou, esteve sempre ao meu lado, ajudando-me em tudo o que eu precisei, até ao último momento esteve ali comigo. Esta amiguinha é alguém muito especial para mim, de coração enorme, generosa e com o sentido certo das coisas, uma verdadeira amiga. Não posso esquecer todo o apoio que me deu nesses dias e o quanto lhe devo, por ser quem é e por ter sido tão amiga da minha mãe.
Francisquinha, é para ti o meu agradecimento de coração, que Deus te dê em dobro aquilo que tu mereces, obrigada por mim e por ela. Bem hajas!
De repente e quase sem eu dar por isso a minha vida transformou-se num vazio. Por motivos laborais o meu marido e o meu filho partiram para Évora em busca de melhor sorte. A minha casa que era um mar de gente, barulhenta, desarrumada, por vezes parecendo um mundo de loucos, com gente maluca quanto baste, de repente ficou vazia, a casa não mexe! Tudo parece parado. Como se de repente a ficha se tivesse desligado e a máquina parasse!
Os dias são enormes. O entardecer agora é de tons mais cinzentos, há mais nostalgia no ar. Mais tristeza. Mais saudade. As noites intermináveis. A mesa das refeições está desguarnecida! Fazer comida para quê? Come-se qualquer coisa, fora de horas. Fico suspensa dos sons que me chegam da rua. Os barulhos do prédio que antes não existiam. O som da chuva e do vento ouvem-se impiedosos, como se antes não houvesse temporais. Até os animais de casa, se calaram, hibernaram, estranhando o mutismo, deambulam desgostosos, silenciosos.
A partida da minha mãe! Esta dor que não me cabe no peito. A saudade infinita e a falta que ela me faz! Era a minha conselheira, com quem eu desabafava e a quem eu contava os meus segredos. Era também uma exímia contadora de histórias. Deliciava-nos com os seus contos verídicos de gentes e lugares. De Barrancos, que a viu nascer e crescer e ali se fez mulher, ali amou o homem da sua vida desde os tempos de escola, ali casou e ali teve as filhas, contava-nos histórias fabulosas, verdadeiras lendas que ela nunca esqueceu. Também nos contava episódios reais do tempo da guerra espanhola, relatos vividos por ela e por toda a população de Barrancos.
Histórias de Safara e Vila Nova de S. Bento e das suas gentes que a acolheram e que ela amava de coração. A ouvi-la, o tempo não custava a passar. Eram tardes deliciosas. Já não a ouço. Agora parece que o tempo não passa.
Para piorar as coisas o meu Bethoven, (gato que eu adoro) também partiu. Não com os donos, para Évora, nem para lá da ponte, mas para casa de amigos, por motivo de mau feitio para com os outros gatos, que de repente não consegue controlar. Volta aos fins de semana. Novas guerras, novas batalhas perdidas, difíceis de entender e de aceitar. E volta a partir sem encontrar-mos solução para este problema. E volta a saudade.
Não sei porque partiste. Só sei que partiste e que a tua ausência dói muito cá dentro.
A tua caminhada chegou ao fim. Uma caminhada repleta de lutas, revoltas e de grandes batalhas, umas vencidas outras perdidas.
Eras uma mulher de verdades, de uma só palavra e de sentimentos puros, que acreditava na honra e na bondade.
Embalaste-me nos teus braços quando eu tinha medo ou chorava por algum motivo, hoje fui eu a abraçar o teu corpo frágil e pequeno e beijei os teu cabelos brancos pela última vez. Abracei-te com força com medo de te perder. E perdi-te para sempre.
Hoje foi o dia da tua partida e eu sinto-me pequenina, dorida, perdida e sentida.
Até sempre MÃE!